quarta-feira, 26 de março de 2014

Versos diversos

Quando meu tempo chegar

Chegará o tempo
em que meu tempo passará.

Ele virá de súbito

varrendo a minha sala
rasgando meus papeis
destruindo o que criei.

Encontrar-me-á sobre a cama,
aguardando por seu beijo.

Assim chegado o tempo,
não terei tempo de acenar


adeus.




Amor crucificado

Disse que te amo e, ao dizê-lo
desapercebi da sombra que então espreitava
desejosa de encontrar mente fraca,
travestindo respeito em medo.

Teus olhos me contaram com palavras
motivos para tua decisão:
coisas belas, ingênuas e tolas
justificam tua decisão.

Num pulso de dor, dúvida e paixão
perdi toda cautela,
escrevi nota singela
esqueci-me da repressora religião.

Tu, sabedora do que se passava,
lançou-me o olhar de quem com ouro não se seduz:
"Acredito no teu amor, meu bem,
mas peço que o guarde, pois prefiro a cruz".




Oscuridad (primeira tentativa)

Sozinho parti andando
na estrada da amargura
separado de quem amo
joguei-me de vez na sepultura.

Lá a minha luz se apagou
meus olhos perderam seu brilho
minha mente às trevas se entregou
à dor, à desesperança, ao castigo.

Passei pela porta do temor
recebido por aqueles de tolos amores
cruzando a ponte da morte
devorei (uma a uma) minhas dores.

Fui abandonado na noite mais negra
mais fria, mais feia, mas bela;
duma lua vibrante e cheia
onde sonhos desmancham-se no ar.

Meus fatigados olhos nada enxergam
traves enormes os impedem
as lágrimas que correm pelos vales
não encontram o chão.

Eis que na sombras frias
tuas mãos me alcançaram
alisaram meu rosto de pedra
fazendo-me esquecer meu eu.

Teus olhos, rubis profanos
resplandecem no vácuo do meu rancor
tua escuridão acalma o meu espírito
faz-me descer até tua presença!

Oh, senhor da minha tristeza!
Mestre do sofrimento, rogo-te
em meio às sombras do meu coração
afasta de mim esta esperança!

Oh, Oscuridad, tremendo! Oscuridad!
Recebo a tua divina ira!
Amaldiçoe estas grotescas liras
escureça meu coração!

Em tuas garras ferozes
de derrotados algozes
entrego o que restou de minh'alma
doce ilusão de vida!

Que teus dentes perfurem meu rancor
destruam as entranhas de meu corpo
atire-me no poço da mais profunda depressão!
Não sou mais aquele que via!

Escureça o meu coração, oh, Oscuridad!
Rasgue as veias, as artérias, meus pulmões!
Que teu brilho fosco seja meu manto
que a felicidade torne-se pranto!

Acendi velas para a minha paixão
e teus frios ventos apagaram-nas
e, na loucura de minha mente,
construí o teu altar!

Não me abandones, oh treva suprema!
Afogado em mil lamentos
conheço apenas o que não tenho,
entrego-te o que não resta!

Oh, Oscuridad!
Treva suprema!
Oscuridad!


Postado em 26/03/2014. Nicolas Peixoto.