segunda-feira, 20 de maio de 2013

O Homem e a Sombra

O Homem e a Sombra

     Eu costumava andar na sombra. Na verdade, ela que costumava andar comigo. No início, eu tinha medo.  Depois, percebi que ela não era tão ameaçadora. Virei amigo da sombra. Ela me envolvia. Enquanto eu olhava para as luzes, sem alcançar nenhuma delas, a sombra me afagava. E em seus carinhos, acabei me apaixonando por aquela penumbra. Quer dizer, ela não era luz, mas e daí? Nenhuma luz jamais me envolveu, e aquela sombra ali, cuidando de mim, tratando dos meus anseios. E ainda dizia que eu também era bom para ela. Era um amor recíproco. Passei dias, noites, eras mentais sendo escondido, tragado por aquela sombra envolvente que dizia me amar. Um dia, percebi uma claridade súbita. Resolvi abrir os olhos: estava nu, vulnerável. Abandonado. O sol queimava minhas costas, minha face. A sombra havia me deixado. Ela, que outrora agarrava-se em mim, que me ensinou a amá-la, foi-se sem aviso algum. Fui deixado.

Postado em 20/05/2013. Nicolas Peixoto.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Ah, aquele texto que você me mostrou daqueela vez. Finalmente veio parar aqui. Bom, um dia deixa-se de viver na sombra pra finalmente alcançar a luz. Mas o que se espera que seja algo agradável, aqui rompe com essa ideia: traz dor, tristeza. A sombra, que geralmente não é amada, aqui recebe amor e mesmo assim deixa o eu-lírico. Mais uma quebra de paradigmas, sr. Nicolas.
    E o que eu havia perguntado sobre o texto parecer estar incompleto, pra mim, hoje, tem um significado maior. O fim abrupto do texto mostra como o próprio eu-lírico se sente com esse abandono. Enfim, o que pareceu na época ser um bloqueio para a continuação, hoje faz todo o sentido. Acho que era isso que tinha que ser. O texto fala por si.

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